A quem chega o auxílio emergencial?

Thiago Coelho
2 min readAug 18, 2020

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Segundo nota do IBGE de junho[1], 51,8% dos domicílios sergipanos foram agraciados com o auxílio emergencial. Auxílio que, segundo pesquisa da FGV[2], baseada na PNAD COVID, foi responsável por 55% da renda do terço mais pobre da população brasileira, reduzindo a pobreza de 25% para 22% em maio. Ainda segundo o artigo, a cobertura deste auxílio chega a 42% das casas dos brasileiros, algo impressionante se comparado aos 19% do bolsa família. A pesquisa nota, no entanto, que é um programa extremamente caro, necessitando de R$ 50 bi por mês enquanto o bolsa família custa R$30 bilhões por ano.

Para conferirmos se o auxílio está chegando aonde é mais necessário, foi feita uma regressão[3] a nível estadual aonde o índice de GINI[4] explicaria a porcentagem de domicílios com auxílio emergencial. Foi obtido que, a cada 0,01 adicionais no índice de GINI, há em média acréscimo de 2% nos domicílios com auxílio, com p-valor menor que 0,01, o que significa que o GINI é significativo a menos de 1%. Sergipe apresenta posição preocupante: com GINI de 0,63, se aproxima dos 25% dos estados mais desiguais, caracterizados por GINI maior que 0,63. Sergipe, com seus já citados 51,8%, se aproxima dos 25% dos estados com maior quantidade de residências auxiliadas, que são aqueles com números maiores que 55%. A visualização também permite observar a desigualdade regional. Os estados do sul, todos no 1º quartil da distribuição de renda (GINI < 0,56), também estão no 1º quartil (menos que 35%) da porcentagem de domicílios com auxílio. Enquanto os 25% mais desiguais (GINI > 0,63) são todos estados do Norte e Nordeste, que também são as únicas regiões a estarem nos 25% com mais domicílios aos quais foram concedidos auxílios.

A partir destes dados é possível concluir que o auxílio tem apresentado sucesso em chegar aos locais mais necessitados. Podendo inclusive ser utilizado como base para desenho de novas formas de políticas públicas no futuro, o que deve ser feito com o controle das finanças governamentais, dado que o custo para tanto seria alto.

Thiago Oliveira Coelho

Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Sergipe

[1] Nota do IBGE: <http://www.cafecomdados.com/wp-content/uploads/2020/07/PNAD-Covid-Auxilios-Emergenciais-Se.pdf>. Acesso em: 08/08/2020

[2] Artigo da FGV: < https://blogdoibre.fgv.br/posts/auxilio-emergencial-faz-pobreza-cair-em-plena-pandemia>. Acesso em: 09/08/2020

[3] O correto aqui seria utilizar uma regressão beta, dada a natureza da variável dependente (valores entre 0 e 1). Porém a modelagem linear, neste caso em específico, apresentou menores resíduos. <https://cran.r-project.org/web/packages/betareg/vignettes/betareg.pdf>. Acesso em: 09/08/2020

[4] Índice de GINI por estado: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/ibge/censo/cnv/giniuf.def>. Acesso em: 08/08/2020

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Thiago Coelho
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Técnico em eletrônica e graduando em economia, com grande interesse na parte quantitativa que une ambos os campos.